HOJE PINTEI O PAI NATAL

Há grãos de vida que não podemos deixar voar nunca nos ventos do nada.
Olhei para ele e senti que tinha que ser hoje. Há meses que preparava empiricamente o momento e naquele segundo apercebi-me, que o agora estava ali e não o podia deixar fugir. Pela enésima vez daquele olhar de brilho doce,brotava a interrogação do presente próximo de Natal,ornamentado de vermelho e barbas brancas.
É agora!!! Cerrei os dentes, recuei por instantes umas décadas e amarguei mais uma vez aquela desilusão imensa (talvez a primeira) de um embuste que se desfez, para se metamorfosear num desmoronar terrível de um instante de sonho. Jamais o esqueci!!!
Sabia que provavelmente a desilusão ia aparecer e aquele brilho de alegria, podia transformar-se num misto de tristeza e frustração próprios de quem acredita mesmo, que a partir desse momento até a terra pode deixar de ser redonda.
Olhei-o e abri-lhe paulatinamente a primeira página do livro da verdade. Mostrei-lhe a frieza do presépio, a miséria do acordar para a vida, a crueldade do real tantas vezes pincelado de sonhos enganadores apresentados em telas coloridas.
Ouviu-me, perfeitamente imbuído de um novo papel de homem novo e do fundo do seu olhar e na profundeza do seu abraço, senti mais que nunca, o palpitar do seu agradecimento e a alegria de saber, que agora definitivamente para ele, o Pai Natal até pode ser vermelho ou mesmo encarnado,tanto lhe faz... NUNOLIVEIRA